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Letra da música Cantão

[Verso 1]
A galera lá do morro tá sabendo
Hoje vai ter festa na casa do Pequeno
Aquele molequinho que tá sempre no Cantão
Neguinho tá dizendo que ele mora na maior mansão
É, a galera sempre aumenta
Mas a cachanga é de responsa no 550
Tem deck, piscina, quem vê não imagina
Que o Pequeno mora lá
É o cara é gente fina
Ele desce todo dia a pé pro Cantão
Junto com um pretinho que se chama Janjão
Às vezes com o Nem, às vezes com o Baya
Às vezes sem ninguém mas tá sempre lá na praia
Chega sozinho e todo mundo já conhece
Chega cedinho e só sai quando escurece
Pega o seu skate e vai direto pra favela
Pra andar no half-pipe lá da “curva do S”
É, nem parece que ele é filho de bacana
A aparência às vezes engana
Mas a grana, no caso, não faz diferença
Muito pelo contrário, a grana é o de menos
A galera da favela vai marcar uma presença
Hoje tem aniversário na casa do Pequeno

[Refrão]
Eu sou do Cantão!
E lá não tem parada
Todo mundo é irmão, todo mundo é camarada
Eu sou do Cantão!
E lá não tem caô
Todo mundo é peão, todo mundo é doutor
Eu sou do Cantão!
E lá não tem errada
Um aperto de mão vale mais que uma mesada
Eu sou do Cantão!
E lá não tem terror
Amizade não tem classe nem cor

[Verso 2]
Ele mora ali de frente pro mar, mané, mas é pertinho do morro, a galera vai a pé
Pra entrar no condomínio tem até segurança
Mas não barrou ninguém vâmo pra festança
Olha quanta coisa bonita
Pequeno!!
Peraí maluco num grita!
Ele mora ali naquela casa que tá cheia de gente
E cheia de carrão estacionado na frente
Todo mundo chique, de roupa social
E a gente assim largado, vai até pegar mal
(É melhor sair fora pra não pagar mico
Isso é festa de rico
Não é pro nosso bico
Que isso, Chiquinho? Nada a ver!
Quando é festa lá no morro o Pequeno é o primeiro a aparecer
É, se ele vive lá no funk e no pagode
Por que no aniversário dele a gente não pode?
É isso aí, Almir-Rato
O Pequeno convidou, e se a gente não entrar vai ficar chato
Vâmo nessa, galera, quem não deve não teme
O Tripa sempre vem aí jogar vídeo-game
Diz pra ele Negão!
Eu até ranguei aí outro dia, meu irmão!
Não tem erro não
Demorô!!
Aí, ó o Pequeno aí fora
De bermuda e chinelo
Chegaí!!
Vambora!!
Tá rolando um refri, cachorro e coxinha
E tá sobrando um monte de gatinha)
[Refrão]
Eu sou do Cantão!
E lá não tem parada
Todo mundo é irmão, todo mundo é camarada
Eu sou do Cantão!
E lá não tem caô
Todo mundo é peão, todo mundo é doutor
Eu sou do Cantão!
E lá não tem errada
Um aperto de mão vale mais que uma mesada
Eu sou do Cantão!
E lá não tem terror
Amizade não tem classe nem cor

[Verso 3]
E o Pequeno cresceu e nem se lembra dos presentes que ganhou
Mas da festa ele nunca se esqueceu
A família reunida, os colegas da escola
A galera lá do morro e só discão na vitrola
Se esqueceu até do beijo da menina
Mas se lembra da galera se jogando na piscina
As lembranças do tempo de moleque no Cantão
Ficaram marcadas na cabeça e no coração
Como aquele cara que não tinha as duas pernas
E subia num skate se arrastando na favela
A força de vontade daquele aleijado
Simbolizava a humildade e a batalha do favelado
E a coragem que aquela gente tinha e tem
São um exemplo de vida que o moleque aprendeu bem
Lutar pra viver, ser mais solidário
E nunca vacilar, porque não há lugar pra otário
E nem pra malandro demais
A malandragem é saber sobreviver em paz
Saber a hora de falar e a hora de ficar calado
E respeitar para ser respeitado
E se os ricos pensam que o convívio dos seus filhos com os pobres atrapalha a educação
O Pequeno aprendeu o que nenhuma escola pode ensinar convivendo com a galera do Cantão
Ele viu que a riqueza na verdade é viver com humildade e vencer o preconceito
E ganhou o que nenhum dinheiro pode comprar
A amizade que até hoje guarda dentro do peito
[Refrão]

[Verso 4]
E a galera até hoje se reúne lá no canto
Uns todo dia, outros nem tanto
Alô Gebara, Vaguinho, Pamonha e Passarinho
Bonito, Creck, Bila, Boc, Xêra e Maluquinho
Tim Dorê, Pinel, Suruba e Gargamel
O Night entrou pro bicho e foi mais cedo pro céu
Abobrinha se mudou pra Fortaleza
O Déo já é papai e é fiscal da natureza, beleza
O Janjão virou piloto de asa e, quem diria
O Nenô virou crente e vai à igreja todo dia!
Almir-Rato agora é professor de natação
E o Bocão criou uma associação de surfistas da favela, da nova geração
Que vão continuar a história do Cantão
Uma história real, de paz e amor
Que hoje quem te conta é o Gabriel O Pensador
Mas há dez anos atrás, mais ou menos, era mais conhecido como Pequeno

[Refrão]
Eu sou do Cantão!
E lá não tem parada
Todo mundo é irmão, todo mundo é camarada
Eu sou do Cantão!
E lá não tem caô
Todo mundo é peão, todo mundo é doutor
Eu sou do Cantão!
E lá não tem errada
Um aperto de mão vale mais que uma mesada
Eu sou do Cantão!
E lá não tem terror
Amizade não tem classe nem cor

[Pós-refrão]
É isso aí, essa eu dedico pra toda a galera do Cantão, de coração
Aí Nenô, Baya, Gu e toda família
Alô, Fofão, Cheira-Bife, fala, Marreco
Macaé, Betinho, Gato, Careca, Cenourito
Não dá pra citar todo mundo
Nick, Ri, Baleia, Nem, Paquito
É isso aí
Um abraço especial pro Márcio Dente de Lata
Nosso amigo devia estar aqui gravando com a gente
Surfista que foi preso injustamente
Mas aí, Márcio, ainda dá pra provar sua inocência, meu irmão
A galera tá te esperando lá no Cantão
(Força, Márcio!)

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